Batizado de Congênito, título de um clássico de Luiz Melodia, o quinto álbum solo do músico, compositor, arranjador e produtor Ricardo Bacelar é um projeto de intérprete. O músico cearense está à frente dos vocais, em um repertório escolhido à dedo: “Busquei montar um mosaico de ritmos e reunir músicas que eu gosto e que têm entre si uma unidade. Não quis gravar composições minhas: me apropriei do discurso, das canções, e busquei trazer releituras”, define Ricardo.
Dentre os compositores escolhidos, sete são nordestinos, como Bacelar. Os parceiros Lenine e Lula Queiroga (“O último pôr do sol”); Caetano Veloso (“A tua presença morena”); Gilberto Gil (“Estrela”); Belchior (“Paralelas”); Djavan (“Lambada de serpente” e Chico Cesar, parceiro de Ivan Lins e Victor Martins em “Soberana Rosa”, ou “She walks this earth”, na versão para o inglês gravada em Congênito.
Canções de Chico Buarque (“Morena dos olhos d’água”), Adriana Calcanhotto (“Mentiras”), Jorge Mautner e Nelson Jacobina (“Maracatu Atômico”); Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro (“Estrela da terra”; a canção título de Luiz Melodia e o clássico samba-canção “É preciso perdoar” (Carlos Coqueijo/Alcyvando Luz), completam a seleção. O álbum chega às plataformas de streaming sexta-feira, dia 05 de agosto, e também está sendo lançado no formato físico (CD).
Não é a primeira vez que Bacelar assume sua faceta de cantor. Desde os tempos do Hanoi Hanoi, grupo que se destacou nos anos 1980 e no qual entrou aos 18 anos, Ricardo já fazia vocais. “Nos 11 anos de estrada com o Hanoi Hanoi aprendi muito. Era muito intenso, porque o rock é uma linguagem visceral. Em paralelo à banda fui para outros projetos, gravando e produzindo com vários artistas. Passei a compor para cinema, publicidade, teatro e televisão. Foi muito importante para o meu crescimento”, pontua.
Na construção de sua sólida carreira solo, a intimidade de Ricardo Bacelar com o microfone foi crescendo em meio a projetos instrumentais. Além dos singles “Nada será como antes”, ao lado de Delia Fischer, e “Vício elegante”, parceria com Belchior, Bacelar gravou os vocais de “Oh mana deixa eu ir” em seu elogiado álbum “Sebastiana” (2018). “Passei a praticar o canto como uma nova linguagem em meus shows. Foi um processo que veio espontaneamente: quando me vi, já estava cantando”. Avesso a rótulos, Bacelar acredita que é fundamental ter liberdade para ousar: “Nunca gostei de ficar rotulado, dentro de uma caixinha. Como toco muitos instrumentos, posso transitar pelos mundos da música instrumental, da música popular, da música erudita, e isso é muito bom.”
Congênito é fruto ainda de um desafio solitário que nasceu da pandemia e da vontade de Bacelar de explorar todos os recursos do Jasmin Studio, que montou em Fortaleza. “Me interesso desde muito cedo por estúdios de gravação. Acho que me inspirei no meu avô, que fazia rodas de chorinho em casa e gravava tudo. Ouvia aquelas fitas de rolo e ficava fascinado”. Sozinho em seu estúdio (que já é referência em publicações internacionais especializadas), o multi-instrumentista entrou em ação: “Gravar todos os instrumentos, como eu fiz, exige doses de ousadia, técnica e muita paciência. Tive que me dedicar, pesquisar sobre a sala de gravação, os equipamentos, porque é um estúdio muito complexo. Cada instrumento que você coloca é como um tempero no caldeirão de sonoridades do álbum. Fui experimentando as músicas, vendo o que funcionava, e eu adoro esse trabalho de laboratório”, avalia.
O novo álbum sai pelo selo Jasmin Music, que nasceu do estúdio no qual, além de Congênito, foram gravados o álbum de Ricardo Bacelar e Cainã Cavalcante(“Paracosmo”), e o single “De passagem”, com a participação especialíssima deToninho Horta. “No processo de construção do estúdio me veio a ideia do selo, para que eu possa gravar os meus discos e também trabalhos com outros músicos e artistas. Atualmente, o estúdio está entre os mais importantes da América Latina porque traz muita tecnologia embarcada, como o Dolby Atmos e som em 3D. A ideia é poder exercer o ofício de produtor, músico e compositor de uma forma mais intensa”, resume Bacelar.
Além do Brasil, Ricardo Bacelar está lançando Congênito no exterior, com ênfase nos mercados dos Estados Unidos e Japão. Os álbuns “Sebastiana” e “Ao vivo no Rio” (2020) entraram no Top 50 de execução das rádios de jazz dos EUA. “Acho que o que chama atenção lá fora é essa carga de brasilidade da música que eu faço. A nossa cultura é riquíssima, traz muitos elementos da África, da Europa, e tem uma mistura com o jazz americano que trouxe a bossa nova”, finaliza.
Repertório Congênito – Ricardo Bacelar
1 – O último pôr do sol (Lenine/Lula Queiroga)
2 – She walks this Earth (Ivan Lins/Vitor Martins/Chico César/Brenda Russell)
3 – Congênito (Luiz Melodia)
4 – Morena dos olhos d’água (Chico Buarque)
5 – A tua presença morena (Caetano Veloso)
6 – Estrela (Gilberto Gil)
7- Mentiras (Adriana Calcanhotto)
8 – É preciso perdoar (Carlos Coqueijo/Alcyvando Luz)
9 – Paralelas (Belchior)
10 – Estrela da terra (Dori Caymmi/Paulo César Pinheiro)
11 – Lambada de serpente (Djavan)
12 – Maracatú Atômico (Jorge Mautner/Nelson Jacobina)
Gravado e mixado no Jamin Studio, em janeiro/março de 2022
Técnico de gravação: Melk
Mixado por Beto Neves
Masterizado por Carlos Freitas
Estéreo e Dolby Atmos